Índia born’s

doem doem.
já tive intermináveis pesadelos e
noites submersas carências
madrugadas sem roupa descalça

nada saía de mim
mesmo nua, me parecia entupida,
resistiu
um silencio.

rangendo as minhas costelas
mãos suadas
os meus cabelos cortados resistiram.

esses casos de morte interna dificilmente serão
enterrados um dia.
a paz e a guerra são a transformação que te apetece.
que te torna.

(o teatro grego!)
por isso sei bem a valia destes romances
têmpera abstrato ovo
memoráveis!
não há tristeza em limite máximo: três meses.

incomparáveis ao compromisso ciúme posse termina
volta volta
inigualáveis a essas exposições eternas de dor.
a alma dói.
são tão incrivelmente preparados para a pinga
papo arte poema tequila baseado
a praia no dia seguinte é reveladora:
estamos indescritivelmente em paz.
então existia mais alegrias ali: era a paz de ser
reinando utopicamente sobre
a ladeira dos tabajaras e as varandas atlanticas.

não há revelações surpreendentes.
não há dor.
não há lástimas, menos afetos.
há uma lembrança que não atormenta.
há uma certeza que não arranca sangue.
os nossos dias concisos
se amarão pra sempre em copacabana.

 

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Poema catarse

não é o que tu olha, toma em tuas mãos

goza.
desenha, bebe na gávea, 
na lapa.
 
não é o insondável que resiste.
 
a alma sensível a tudo percebe, repara, poeta.
tu não és grosseiro.
sonda, sente.
não se faz desses tipinhos engomadinhos
sem teatro, sem cor.
(catarse suscita!...)
 
tu és estupidamente delicado.
e é o que te faz mais belo
simultaneamente
é a tua delicadeza extrema que me fere.
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vidraçaria

são raios vindos de ti, homem tempestuoso?
serão gotas condensadas no vapor que te cerca, homem do sol?
ou uma chuva em brasa, antes de ser cinza,
depois de ser chama?
embevecidos são estes versos pobres
quando teus dedos e olhos ebulindo perfuram a minha pele, meu corpo pálido diante a tua cor viva.
saboreio fúnebres poetas numa busca implacável
aos segredos que te formam homem do fogo.
contemplo tuas estantes abarrotadas, bonecos em guerra.
tua infância renasce em cada sorriso
escapando a minha franqueza exacerbada
os teus dias quentes e as tuas noites
mentes!
minhas também serão, homem que nada tem de inverno
tu és o meu preguiçoso domingo de sol
hipnotizo, tu ainda me assusta, poeta!
teus modos atravessam as ruas
os postes e os fios de alta tensão
as pessoas conversam nos portões de aço
que recebem e esbarram nos encontros de amor e saudade
destas criaturas vivendo a simples realidade (não há metáforas nelas)
as calçadas
testemunham os beijos que se despendem nos pontos de ônibus
e os pinos de concreto passam por ti saudosos
aqui
eu desço o primeiro degrau
em estado de nervos anseio por tua “chegada como a fuga de uma ilha”
e tu
parado, encostado no gelo do aço
me espera
lá embaixo ainda
(teu perfume me alcança)
não se dá conta que me queimo inteira, como um jarro de vidro se desenhando para imperar nas vitrines das boutiques desertas,
sem poeiras, sem poetas

devidamente solitárias
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Acordada

por isso me agarro aos gatos transeuntes
mestiços e os pretos de raça
agora troco assovios pela dança das minhas orelhas
pardas de onça pintada pequena e desamparada
ao miados de amor que ressuscitam dentro
de mim ressonâncias vibrantes de almas trincadas
pelo passado que foi


cada sonho não contado logo cedo


destituído de nós o amor
agora se faz com a calma que aprendi a viver sem ti
com a lava que explode em lábios vermelhos
passeando como quem sai sem hora pra voltar
pelos meus pelos e vales desertos
abismos que se encontram em cantos sorrindo


canto chorando


de bocas secas como a minha depois que te leio
inteiro quando respinga em mim