ouvi os corações acelerados
e a tua voz, baixa, esclareceu:
- existe uma luz nos teus passos,
embora a escuridão caminhe comigo
há muito tempo debaixo de tempestades.
e suando como eu estava
páreo às flores do teu jardim
pensei mais na beleza que te cerca,
dia após dia
nesta rua sem saída em que tu mora
atiro as minhas estrelas mortas
(que brilham impunemente)
ao teu quarto no terceiro andar
simétrico em poeiras antigas
estantes e livros
gavetas velhas
(guardam a minha camisola de seda)
e cadente nos teus braços
agora
revejo teu olhar paradoxo
ao saber
deles tuas imperdoáveis atuações repetidas.
nós somos um poema esquecido
um futuro “talvez no tempo da delicadeza”
onde tu não se recorde mais do contorno
que precisa fazer para formar
uma única letra
nos teus rascunhos inalcançáveis
ao meu lado todas as noites.
e assim te lembres que és um homem
antes de ser poeta.
talvez assim tu sejas a poesia
antes dessa ferida reescrita.